Postando para existir

 "a gente permite que o olhar do outro penetre a minha intimidade, mais do que isso, você quer que o outro veja sua intimidade, você implora pelo olhar do outro, você se exibe diante dele. Você se oferece como presa pro sacrifício, como persona no palco, você faz o seu instagram, você faz a sua rede social... (...)

"você se vende como uma mercadoria no universo contemporâneo que valora o eu"


Pensando sobre isso tudo...

sobre o quanto eu me exponho na internet, e não me exponho ao vivo
ou o quanto me mostro na vida real, e o que não mostro na internet

é aquela citação antiga, feita pelos maias (hahahaha): "se você não está na internet, você não existe".
Mas o que cabe no "não existir", e o que seria isso?!
você precisa estar conectado o tempo todo, compartilhando coisas sobre a sua vida aleatoriamente para que os outros, muitos dos quais você não faz idéia que estão ali, possam ver e curtir ou pular o conteúdo?

a frase citada lá no começo me pegou de jeito ... "você se vende como uma mercadoria no universo contemporâneo que valora o EU", e a parte do "você se oferece como presa pro sacrifício" também.

Quem nunca postou uma foto no hospital tomando medicação na veia? Quem nunca postou foto chorando ou algum vídeo sofrendo por qualquer razão? Quem nunca pensou em ir num lugar só porque é instagramável? Entre tantas outras situações... tenho certeza de que se você nunca fez isso, já viu alguém fazer ou já pensou em fazer e desistiu. E por que?! Por que queremos essa atenção do outro, por que precisamos nos mostrar em toda e qualquer particularidade?

Eu já postei muito, não nessas situações, ou talvez já... Também postei pouco, já deletei redes sociais, fiquei off, deixei de existir, perdi o assunto das rodinhas da turma, fiquei por fora das novidades, mas a vida mesmo é o que acontece além do que mostramos naquela fração de segundo ou minuto ... ou horas (porque hoje é tudo editado, não é mais clicar e jogar na rede, tem todo um trabalho de imagem). A vida e você, é o que acontece além da pose e do meme compartilhado. Você é como ri, como olha, como toca, como fala, como responde ao outro, como interage com o outro, é o cheiro, a sensação, os detalhes... é a intimidade da conversa, das questões do dia a dia, das questões mais profundas e das mais bestas também, é não ter vergonha de ser quem é para o outro.. e deixar o outro te ver apenas por uma foto bem tirada, ou um momento compartilhado, não é intimidade.

Não nego, a internet e as redes sociais são ótimas para socializarmos, trocarmos experiência, conhecermos pessoas e trabalhos bacanas, e é uma mão na roda. Tudo está aqui... é só digitar e apertar enter, que voilá, achou!

Vi esse texto da Maria Homem ontem na rede de uma amiga, e fiquei pensando sobre o que eu compartilho com os outros, o que eu permito e quero que o outro veja, até onde eu vou para que tenha a atenção do outro voltada para mim.

Não digo que deixar que o outro nos veja seja algo ruim, mas reflito sobre as seguintes questões:
você precisa mesmo estar 24 horas online pra se fazer presente e ter a sensação de pertencimento?
você quer que o outro te enxergue só para alimentar o seu Eu?
quando você deixa o outro entrar na sua intimidade, será que está preparado para mostrar mesmo as suas particularidades?

Penso sobre isso agora, até deletei umas coisas que havia postado, arquivei outras... é raro, mas acontece muito isso d'eu repensar a minha exposição e consumo. Mas, amanhã, posso compartilhar novamente e permitir que o outro veja o que eu quero que ele veja. E é assim que seguimos a vida moderna tecnológica. Postar para existir e ser a presa de uma caça que você nem faz ideia de qual seja.

A sua intimidade não é algo para se ofertar. A intimidade não é uma banalidade. 


Paula R. Alvarez





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